Aquela era a última ceia de Páscoa que Jesus celebraria com Seus discípulos antes da crucificação. Enquanto comiam, Jesus tomou um cálice, agradeceu e disse: “isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt 26.28). É incerto quanto os discípulos entenderam desse pronunciamento profético. Porém, seu significado se esclareceria pouco depois, ao testemunharem a morte sacrificial de Jesus na cruz e lembrarem as palavras que Ele dissera ao erguer o cálice. Foi através de Sua morte e do Seu sangue derramado que Jesus estabeleceu uma Nova Aliança que mudaria o rumo da história da humanidade, tanto para os judeus quanto para os gentios.
Um Superior Sacrifício pelo Pecado
Dia após dia, um sacerdote levita entrava no templo e oferecia sacrifícios de animais para a remissão de pecados, conforme determinava a Lei de Moisés. O sistema sacrificial da Lei era apenas uma sombra do que Jesus iria realizar no futuro, através de Sua morte na cruz. O Livro de Hebreus ilustra de duas maneiras a ineficácia dos sacrifícios levíticos para remover o pecado. Em primeiro lugar, se o sacrifício pelo pecado aperfeiçoasse quem o oferecia em adoração, não haveria necessidade de repeti-lo (Hb 10.2). Em segundo lugar, se os israelitas tivessem sido verdadeiramente purificados do pecado através de sacrifícios de animais, “não mais teriam consciência [senso] de pecados” (Hb 10.2). Mas o fato é que nenhum de seus sacrifícios podia torná-los perfeitos ou livrá-los da consciência do pecado (Hb 9.9). Por quê? “Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hb 10.4). O sangue de animais não tinha o poder de efetuar a redenção; a imolação ritual não podia purificar a carne, isto é, realizar a purificação cerimonial (Hb 9.13).
O sangue de animais não tinha o poder de efetuar a redenção; a imolação ritual não podia purificar a carne, isto é, realizar a purificação cerimonial (Hb 9.13).
Através de um nítido contraste, o Livro de Hebreus explica como Deus providenciou um sacrifício melhor para a redenção do homem. Deus Pai enviou Seu Filho Jesus para ser o sacrifício pelo pecado. Jesus tomou parte na obra da redenção e tornou-se o sacrifício da expiação, com profundo e total envolvimento, e não em resignação passiva.
Obedecendo à vontade do Pai, Cristo entregou Seu corpo como uma oferta definitiva, permitindo que o pecado do homem fosse removido (Hb 10.5-10). A conclusão é óbvia: Deus revogou o primeiro sacrifício, que dependia da morte de animais, para estabelecer o segundo sacrifício, que dependia da morte de Cristo.
Qual a diferença entre o sacerdócio de Cristo e o sacerdócio dos levitas?
Na Antiga Aliança, centenas de sacerdotes levitas ofereciam, continuamente, sacrifícios inefetivos que “nunca jamais podem remover [apagar completamente] pecados” (Hb 10.11); mas o sacrifício de Cristo removeu os pecados, de uma vez por todas. Os sacerdotes araônicos ofereciam sacrifícios pelo pecado, dia após dia; Cristo sacrificou-se uma só vez. Os sacerdotes araônicos sacrificavam animais; Cristo ofereceu a si mesmo. Os sacrifícios dos levitas apenas cobriam o pecado; o sacrifício de Cristo removeu o pecado. Os sacrifícios dos levitas cessaram; o sacrifício de Cristo tem eficácia eterna. Assim, Cristo está agora assentado “à destra de Deus” (Hb 10.12; cf. Hb 1.3; 8.1; 12.2), o que demonstra que Ele completou Sua obra, obedientemente, e foi exaltado a uma posição de poder e honra.
Cristo, o holocausto supremo e perpétuo, é o único sacrifício pelo pecado que existe atualmente. Os que rejeitam o sacrifício de Cristo têm sobre sua cabeça três acusações: (1) Eles desprezam a Cristo, calcando-O sob seus pés; (2) consideram o sangue de Cristo como profano (comum) e sem valor; e (3) insultam o Espírito Santo, que procurou atraí-los para Cristo (Hb 10.29). Os que rejeitam Seu holocausto redentor são considerados adversários. Na aliança mosaica, os adversários eram réus de juízo e morriam sem misericórdia. Conseqüentemente, as pessoas que rejeitam a Cristo aguardam o horrível juízo de Deus (Hb 10.30-31).
Por meio de Sua morte, Jesus inaugurou um “novo e vivo [vivificante] caminho” (Hb 10.20) para que a humanidade possa chegar à presença de Deus com “intrepidez [confiança]” (Hb 10.19). Portanto, o que possibilita a existência de uma Nova Aliança é o sacerdócio e o sacrifício superiores de Cristo.
Os sacrifícios dos levitas apenas cobriam o pecado; o sacrifício de Cristo removeu o pecado.
Uma Aliança Superior Para os Santos
O Livro de Hebreus revela que Cristo é o “Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas” (Hb 8.6). Ela é mais excelente porque as promessas do pacto mosaico eram condicionais, terrenas, carnais e temporárias, enquanto as promessas do Novo Testamento são incondicionais, espirituais e eternas.
Quais as diferenças entre o Antigo Testamento e o pacto abraâmico?
Deus estabeleceu a aliança mosaica (Antigo Testamento) com a nação de Israel, no Monte Sinai. Esse pacto não foi o primeiro que Deus firmou com o homem, mas foi o primeiro que Ele fez com Israel como nação. A aliança mosaica foi escrita 430 anos depois da aliança abraâmica, e não alterou, não anulou, nem revogou as cláusulas da primeira aliança, a abraâmica (Gl 3.17-19), que era incondicional, irrevogável e eterna.
Muitas pessoas, hoje em dia, confundem a aliança mosaica com a abraâmica e afirmam que a Terra Prometida não pertence mais ao povo judeu porque a nação perdeu seu direito em razão do pecado. Entretanto, Deus garantiu a Israel a posse permanente da terra, não através da aliança mosaica, mas da aliança abraâmica (Gn 15.7-21; 17.6-8; 28.10-14).
As promessas do pacto mosaico eram condicionais. O pré-requisito era que Israel obedecesse aos mandamentos para que Deus cumprisse as promessas de bênçãos, estabelecidas no pacto (Êx 19.5). Mas Israel não cumpriu as cláusulas do pacto. A falha não estava na Lei, pois o mandamento era “santo, e justo e bom” (Rm 7.12), mas na natureza pecaminosa do homem, que se rebelou contra as condições estipuladas no pacto. Essa aliança tinha um poder limitado e não podia conceder vida espiritual nem justificar os pecadores (Hb 8.7-9).
Com quem Deus firmou a Nova Aliança?
A Escritura deixa claro que a Nova Aliança foi feita exclusivamente com Israel (os descendentes de Jacó, pelo sangue) – e não com a Igreja (Hb 8.10). Em nenhum lugar da Escritura a Igreja é chamada de Israel ou “Israel espiritual”, como alguns ensinam. Está claro na Escritura que as bênçãos nacionais, espirituais e materiais prometidas na Nova Aliança serão cumpridas com o Israel literal, no Reino Milenar (Jr 31.31-40).
A Nova Aliança foi profetizada pela primeira vez por Jeremias, seis séculos antes do nascimento de Cristo (Jr 31.31; cf. Hb 8.8). Ao falar do novo pacto, Deus usa os verbos no futuro (“firmarei”, “imprimirei”, “inscreverei”, “serei”, “usarei”, “lembrarei”, veja Hb 8.8,10,12), mostrando que cumprirá as cláusulas dessa aliança. Além disso, o cumprimento depende unicamente da integridade de Deus, e não da fidelidade de Israel.
Deus estabeleceu a aliança mosaica (Antigo Testamento) com a nação de Israel, no Monte Sinai.
Se a Nova Aliança não foi firmada com a Igreja, por que foi apresentada em Hebreus 8?
O escritor de Hebreus foi movido pelo Espírito Santo a citar a Nova Aliança com o propósito de ressaltar o fracasso da aliança mosaica e mostrar a Israel que as promessas reunidas num pacto melhor estavam disponíveis através de Jesus Cristo. A Nova Aliança foi instituída na morte do Senhor (Hb 9.16-17), e os discípulos ensinaram seus conceitos à nação de Israel (2 Co 3.6). O fato da nação de Israel ter rejeitado seu Messias resultou num adiamento do cumprimento cabal do pacto, que só ocorrerá quando Israel receber a Cristo, na Sua Segunda Vinda.
Quais são as promessas da Nova Aliança?
Em primeiro lugar, a Nova Aliança proporciona uma transformação interior da mente e do coração, que só pode ser produzida através da regeneração espiritual. Deus disse: “Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as inscreverei” (Hb 8.10). A Antiga Aliança era exterior, lavrada na pedra (Êx 32. 15-16); a Nova Aliança é escrita “em tábuas de carne, isto é, nos corações” (2 Co 3.3), através do ministério do Espírito Santo. Isso acontecerá com Israel, como um todo, na Segunda Vinda de Cristo, quando Deus derramará o Seu Espírito sobre o povo judeu não-salvo, fazendo com que se arrependa de seus pecados e aceite Jesus como seu Messias (Zc 12.10; Rm 11.26).
Em segundo lugar, a aliança mosaica estipulava que os conceitos da Lei, com seus complicados rituais e regimentos, só fossem ensinados pelos líderes religiosos. Os que vivem sob os preceitos da Nova Aliança são ensinados pelo Senhor, por meio do Espírito Santo que habita em seu interior, e recebem poder para andar nos caminhos do Senhor e guardar os Seus estatutos (Ez 36.27).
Em terceiro lugar, na Antiga Aliança, o pecado era lembrado sempre que um animal era oferecido em sacrifício (Hb 10.3). Na Nova Aliança, Jesus foi o Cordeiro do sacrifício, que, de uma vez por todas, removeu o pecado (Hb 10.15-18) através do Seu sangue. O Senhor disse: “Pois, para com as suas iniqüidades usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Hb 8.12; cf. Jr 31.34). A palavra jamais é uma dupla negativa no texto grego, o que significa que “não, nunca, sob nenhuma circunstância” Deus se lembrará dos pecados do Israel redimido.
Em quarto lugar, Cristo é o Mediador da Nova Aliança (Hb 9.15-20). O mediador atua como um intermediário entre duas partes que desejam estabelecer um acordo entre si. Os mediadores põem seus próprios interesses de lado pelo bem das partes envolvidas no acordo. Um mediador precisa ser digno de confiança, aceitável pelas partes e capaz de assegurar o cumprimento do pacto. Através de Sua morte, Cristo tornou-se o Mediador da Nova Aliança, e possibilitou a reconciliação de todos aqueles que confiam em Sua obra redentora.
Através de Sua morte, Cristo tornou-se o Mediador da Nova Aliança, e possibilitou a reconciliação de todos aqueles que confiam em Sua obra redentora.
A mediação de Cristo também se estende aos santos que viveram debaixo da Antiga Aliança, bem como aos que virão a crer, no futuro. Cristo concede uma herança eterna a todos os crentes, através da Nova Aliança. Um beneficiário só pode entrar na posse legal da herança com a morte do testador. Para que a Nova Aliança tivesse efeito e, legalmente, pudesse conceder a salvação aos pecadores, Cristo tinha que morrer (Hb 9.15-17).
Até mesmo a aliança mosaica teve de ser inaugurada com sangue para ter efeito legal. Moisés mediou o primeiro pacto tomando o livro da Lei, lendo-o diante dos filhos de Israel – que concordaram em guardar os seus preceitos – e, depois, aspergindo o livro e o povo com sangue (Hb 9.19-20). O fato do Antigo Testamento ter sido firmado com sangue mostrou que era necessária a morte de uma vítima inocente para consagrar e estabelecer uma aliança. Aquele pacto era apenas um tipo e uma sombra que apontava para o dia em que Cristo consagraria e firmaria um Novo Testamento, através do derramamento de Seu próprio sangue. Somente Ele poderia mediar a Nova Aliança entre Deus e a humanidade (1 Tm 2.5).
A Nova Aliança, ao contrário da aliança mosaica, é eterna. O Senhor disse: “Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua” (Ez 37.26). Depois de servir ao seu propósito, o pacto mosaico tornou-se sem efeito. As palavras “antiquado” e “envelhecido” (Hb 8.13) mostram que o pacto mosaico estava esgotado, perdendo as forças e prestes a ser dissolvido.
Embora a Nova Aliança tenha sido feita com Israel, e não com a Igreja, os cristãos têm garantido o extraordinário privilégio de experimentar certos benefícios do novo pacto que passaram a vigorar quando Cristo derramou Seu sangue na cruz. Hoje, a Igreja usufrui das bênçãos espirituais da salvação, estabelecidas na Nova Aliança. As bênçãos físicas do Novo Testamento serão cumpridas com Israel, no Milênio. Os que seguem a Cristo são “ministros de uma nova aliança [testamento, pacto]” (2 Co 3.6) e foram chamados para divulgar a mensagem da salvação. Louvado seja Deus por tão grande salvação! (David M. Levy)
Nenhum comentário:
Postar um comentário