quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mistérios sobre quem foi MARIA MADALENA

Quem foi Maria Madalena?


Quem foi Maria Madalena, essa mulher que atualmente tem merecido tantos livros sobre sua vida? O Código Da Vinci reacendeu um interesse pela vida dessa mulher que até então tinha merecido algumas citações nos Evangelhos e em algumas investidas literárias gnósticas. Após o sucesso de Dan Brown, novas publicações sobre essa “misteriosa” mulher surgiram no mercado e também trouxeram outras, anteriores, que não tinham despertado o mesmo interesse que despertam hoje. Também me interessei e fui pesquisar sobre Maria Madalena.

É verdade que existem muitas lendas originadas na Idade Média sobre Maria Madalena. Na França, é venerada pelos católicos como em nenhum outro lugar, dado às hipóteses da sua presença no país. Tal veneração inspirou a fundação da Abadia Beneditina de Vézelay (1050) e os santuários de Aix e de Saint-Maximin, na Provença. Quanto visitei Paris, tive a oportunidade de conhecer “La Madeleine”, igreja fantástica no bairro de Saint-Honoré, onde os católicos veneram a santa. No entanto, como já comentei no artigo anterior, o que os textos evangélicos nos narram é o essencial e suficiente para a mensagem cristã. Neles encontramos muito pouco sobre ela, mas é o que podemos afirmar com segurança sobre Maria Madalena. Todo o mais são hipóteses posteriores de duvidosa fonte histórica. Não afirmo isso só por uma questão de fé, mas porque sei que, até então, tudo o que se pode falar sobre os personagens dos Evangelhos, além do texto dos Evangelhos, é decorrente da possível contextualização com o tempo em que viveram ou, que foram registrados pela história da religião cristã.

Mas quem foi Maria Madalena? Pela tradição, foi descrita como uma mulher sensual e pecadora, e que, apesar disto, mereceu estar próxima a Jesus. Pouco se sabe sobre ela. Talvez saibamos mais pelo que foi dito sobre ela do que pelo que foi escrito e, como disse acima, pelo estudo da história e dos costumes sociais judaicos do primeiro século podemos ter algumas luzes.

A tradição católica, a partir do final do século 6, fundiu as personagens femininas não nominadas (isto é, sem referência familiar) numa única: Maria Madalena. Assim, ela foi tida como aquela que foi salva do apedrejamento reservado às mulheres pegas em adultério (João 8:3-11), como a da pecadora que ungiu os pés de Jesus (Lucas 7:36-39) e como a mulher que derrama óleo perfumado sobre sua cabeça (Mateus 26:6-7). Os Evangelhos em nenhum momento afirmam que essas mulheres eram a Madalena.

Sabemos que Maria Madalena tinha esse nome por ser originária de uma vila de pescadores conhecida por Magdala, daí seu nome, Madalena. Ela era uma mulher que tinha um nome próprio, isto é, não relacionado à família, irmão, ou marido, e que segundo o estudioso André Chevitarese, da UFRJ, possivelmente tinha recursos e uma vida independente, o que não era comum às mulheres da época. Talvez sua independência gerasse preconceitos num mundo essencialmente masculino. Já a falta de um nome relacionado com um homem, fosse irmão, marido ou pai, era fatal.

A interpretação bíblica de maior evidência à condição pecadora de Maria Madalena é a expulsão dos “sete demônios” que Jesus fez de seu corpo. No grego, a palavra demônio não tem a mesma conotação que temos hoje. Ela está relacionada a um verbo – “arremessar para longe”. Possivelmente Jesus, com seu respeito e amor, a afasta dos problemas sociais e conseqüentes efeitos psicológicos, emocionais e espirituais que sofria por ser independente, sem referências familiares e de outras decorrências da sua condição feminina. Lamentavelmente não foi essa a associação feita aos “demônios”. A tradição católica logo associou os sete demônios aos sete pecados capitais, sendo um deles a luxúria. Foi o que a relacionou à prostituição.
É a partir desse episódio que Maria Madalena passa a integrar o grupo de mulheres que seguiam Jesus, juntamente com os discípulos, desde a Galiléia. O destaque a ela nos Evangelhos leva-nos a acreditar que Jesus tinha um carinho especial por ela, certamente por reconhecer sua fragilidade e carência. Ela é uma das poucas citadas nos textos, e é ela que está, juntamente com Maria, mãe de Jesus, aos pés da cruz. Aliás, Maria Madalena aparece em momentos especialmente nobres da narrativa evangélica: na morte e na ressurreição de Jesus.
É evidente o amor de Madalena por Jesus, e este o retribui de forma inigualável: na ocasião da ressurreição, é a ela que se dirige por primeiro (Marcos 16:9). Imagino o encontro de Jesus e Madalena (em João 20:11-18): Jesus a chama pelo nome, e Maria o chama de meu Mestre (Rabbuni). O coração de Madalena deve ter pulado para fora da boca. Ele, o que a amou mais do que ninguém, estava vivo e diante dela, só dela. E é, então, a “mulher dos sete demônios” que sai para anunciar que aquele que estava morto ressuscitou.
Em Maria Madalena podemos ver a situação de tantas mulheres que, em algumas sociedades, só são consideradas se estiverem relacionadas a nomes de famílias, se forem casadas, não importando em que condições. Mulheres que são privadas de exercerem cargos ou funções na sociedade, e que, por serem mulheres, estão destinadas a salários inferiores.
Em Maria Madalena podemos ver a capacidade de amar e a fidelidade desse amor. Amor reconhecido e retribuído por seu mestre, amigo, Jesus. E podemos perceber a capacidade regeneradora do amor. Por ele, a que vivia numa sociedade de poucas simpatias às mulheres não casadas e independentes, encontra a possibilidade de reintegração numa comunidade, vence seus problemas decorrentes do isolamento e do preconceito, realizando-se no amor.
Maria Madalena é portadora de uma das maiores heranças deixada por Jesus. Maior do que qualquer descendência sugerida pelos livros que ocupam as prateleiras das livrarias. Madalena representa a tolerância, o respeito, fruto do verdadeiro amor. Quer maior herança do que esta?

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